Vida digital: "alfabitizar" é urgente

Por Nilton Wainer

Ouvir música, falar ao telefone, ver TV, acionar o botão do elevador, ler as notícias, orientar-se no trânsito. As atividades cotidianas que utilizam os meios digitais são infinitas e aumentam todos os dias. Nem mesmo aqueles que, por ideologia, só ouvem discos de vinil e escrevem à mão, têm como fugir desta realidade.

Na década de 70, quando a informática era um embrião de bits e bytes, alguns curiosos se apaixonaram pelo assunto. Fui um deles. De lá para cá, venho participando da veloz evolução e influência dos meios digitais. No entanto, com exceção dos que, como eu, mergulharam no oceano digital por obrigação de ofício ou por mera curiosidade, poucos foram além dos conhecimentos básicos para lidar com um computador.

Já os nascidos na era da informática foram "alfabitizados" na infância e sabem mais do universo digital do que a turma dos quarenta, os "imigrantes". Os garotos - com seus smartphones, tablets e computadores - são os craques da tecnologia.

Nunca uma geração mais jovem soube tão mais do que seus pais. Antes, os adultos eram a referência, o padrão a seguir, a meta de vida. Agora, os adultos maduros sonham em ser como seus filhos, que dominam as ferramentas de acesso à informação e à comunicação. E por deterem o conhecimento, tem o poder. Não o poder dos governos, das empresas, dos meios de produção, mas o poder subjetivo, o de uma geração sobre a outra, que transparece no âmbito familiar.

Os jovens consideram os adultos de hoje analfabetos digitais. Infelizmente, estão certos. Eles sabem falar a linguagem do século; nós não. A diferença no conhecimento digital entre as gerações é abissal. Nós, portadores da autoridade e liderança, nos sentimos desconfortáveis, pois percebemos que eles estão nos tomando o bastão, antes da hora esperada. Estamos perdendo relevância.

Para compensar, temos algumas vantagens - os atributos que desenvolvemos em nossa formação durante a era analógica: somos mais analíticos, nos aprofundamos mais, somos mais capazes de avaliar, organizar a informação fragmentada e evitar a superficial, temos pensamento crítico. As vivências acumuladas em uma época com menos recursos exigiam maior esforço e sacrifício, nos tornando mais persistentes e adaptáveis às novas situações. É preciso usar estas qualidades para nos reciclarmos, para viver este novo mundo digital, sob o risco de rapidamente nos tornarmos obsoletos, inúteis.

Se você ainda é analógico, está na hora de mudar. E já que os jovens não tem paciência de nos ensinar, precisamos sentar, estudar, fazer a lição de casa. É preciso aprender a linguagem digital para empatar esse jogo, para voltar a encarar nossos filhos de cabeça erguida, poder conversar sobre tecnologia com conhecimento de causa. E para realmente merecer seu respeito; não pela autoridade paternal imposta, mas por admiração.